Quiet luxury: sofisticação sob medida nos projetos de arquitetura

quiet luxury

A arquiteta Mariana Meneghisso aborda sobre o conceito de uma elegância discreta como resposta ao excesso de outrora e uma vivência mais equilibrada

Neste projeto no Guarujá (litoral sul de São Paulo), os arquitetos Mariana Meneghisso e Alexandre Pasquotto maximizaram a incorporação do estar com a paisagem deslumbrante da Praia da Enseada para mostrar que o luxo é aproveitar a vista no conforto de casa | Projeto Meneghisso & Pasquotto Arquitetura | Foto: Livia Kras

Nos últimos anos, a ideia de luxo mudou bastante. Antes muito ligada à ostentação, brilho e excesso, quando se viam lustres suntuosos em salas com diversos objetos à mostra para atestar status, atualmente se apresenta de uma forma muito mais sutil, porém não menos marcante.

Na arquitetura, essa filosofia ganhou o nome de quiet luxury ou luxo silencioso, na tradução literal em português, que mostra como a verdadeira sofisticação não precisa de exageros para existir.

Para os arquitetos Mariana Meneghisso e Alexandre Pasquotto, à frente da Meneghisso & Pasquotto Arquitetura, esse olhar se manifesta em uma nova forma de pensar o morar. “Silence Luxury, como também é conhecido, é um convite a ressignificar o luxo. Ele deixa de lado os excessos e a ostentação para valorizar aquilo que realmente importa como o bem-estar, a essência e a experiência de habitar um espaço”, ressaltam.

Minimalismo como condutor

De acordo com Mariana, a ascensão do quiet luxury tem raízes culturais e sociais recentes e é muito relacionado ao período da pandemia, quando o lar deixou de ser apenas cenário de habitação para se tornar morada e conexão pessoal. Foi nesse contexto que a necessidade de ambientes mais acolhedores ficou mais evidente e a estética do luxo silencioso surgiu como resposta natural aos estímulos excedentes do mundo externo.

Além de dar destaque à entrada, o pórtico executado pelos arquitetos da Meneghisso & Pasquotto Arquitetura funciona como um anteparo para ocultar as portas que levam à área íntima, ampliando a sensação de ordem | Foto: Livia Kras

Assim, o quiet luxury dialoga com o minimalismo, mas isso não significa reduzir o décor a tons de branco ou mitigar os demais elementos. Pautada em sua experiência, a profissional sugere adotar um minimalismo mais sensorial com paletas neutras e terrosas, além de linhas limpas e volumes simples enriquecidos pelo sensorial com texturas, aromas e peças marcantes.

“Na arquitetura, isso se traduz em ambientes que falam baixo, mas dizem muito. Linhas suaves, paletas neutras, materiais nobres e táteis que convidam ao toque e à contemplação. Nada está ali por acaso”, reflete.

Aplicações práticas: o luxo implícito

Na prática, o quiet luxury aparece em soluções como cozinhas ocultas, marcenaria contínua sem puxadores, eletrodomésticos embutidos e mobiliário com linhas clássicas que parecem crescer com a casa. A escolha por elementos integrados e por esquemas cromáticos discretos faz com que os ambientes pareçam mais atemporais e menos sujeitos ao desgaste das tendências rápidas.

Estratégias do quiet luxury provam que luxo e funcionalidade caminham juntos sem precisar de polêmica visual | Projeto Meneghisso & Pasquotto Arquitetura | Foto: JP Image

Mariana acrescenta que essa curadoria de escolhas é essencial para conceber atmosferas que realmente acolhem e onde cada detalhe é escolhido com intenção, criando ambientes que acalmam, acolhem e permanecem no tempo.

Ela também separou dicas de execução para cada ambiente:

– Sala de estar: luxo silencioso aparece em sofás de linhas retas e generosas, tecidos naturais como linho e algodão e mesas de centro em madeira maciça ou pedra bruta com acabamento fosco. Além disso, a inserção de tapetes de fibras naturais e iluminação indireta em pontos estratégicos entregam acolhimento sem precisar de excesso decorativo.

– Cozinha: o espaço se beneficia da marcenaria contínua com eletrodomésticos embutidos e bancadas em pedras claras. A iluminação difusa, pensada para valorizar a preparação dos alimentos, ajuda a reforçar a atmosfera funcional e, ao mesmo tempo, refinada.

– Quarto: para o descanso, o emprego de uma paleta neutra que acolhe, cortinas de tecidos leves que filtram a luz natural e uma cama bem composta com enxoval em algodão de alta qualidade compõem a proposta. O mobiliário acompanha a referência de linhas suaves, cabeceiras estofadas e mesas de apoio discretas.

– Banheiro: pedras claras ou cimentícias, metais discretos em acabamentos como o escovado ou o acetinado e iluminação quente trazem o bem-estar almejado. Plantas adaptadas à umidade reforçam a sensação de frescor, enquanto o uso de nichos embutidos mantém a ordem e a leveza visual.

– Espaços de circulação: mesmo em áreas como corredores, paredes em tons neutros, iluminação linear e obras de arte pontuais podem valorizar o trajeto.

Detalhes suaves marcam os ambientes sem sobrecarregar a cabeça | Projeto Meneghisso & Pasquotto Arquitetura | Foto: JP Image

Sustentabilidade: menos é melhor?

Nesse dormitório, o preto aparece com delicadeza e equilíbrio, revelando um ambiente romântico, atemporal e cheio de significados | Projeto Meneghisso & Pasquotto Arquitetura | Foto: JP Image

Uma das promessas do quiet luxury é a compatibilidade com práticas sustentáveis, já que ao privilegiar peças duráveis e atemporais, o movimento reduz o consumo impulsivo e o descarte rápido. No entanto, a simples aparência ‘quiet’ não garante sustentabilidade.

Na visão de Alexandre Pasquotto, esse novo luxo também é íntimo e humano. “Hoje, o verdadeiro luxo é interior e silencioso. Nossa busca como seres humanos é estar em casa e encontrar equilíbrio entre beleza, praticidade e paz interior”.

Para ele, essa configuração só cumpre esse papel sustentável quando escolhas de produção, materiais e cadeia de suprimentos também são responsáveis. Ou seja, comprar menos e comprar melhor é o cerne da relação entre quiet luxury e sustentabilidade, desde que o melhor implique transparência e longevidade.

Em termos de neuroarquitetura

Parte da formação de Mariana Meneghisso, a neuroarquitetura — campo que investiga como o ambiente construído afeta processos cognitivos e emocionais –, ajuda a explicar por que a estética está diretamente ligada à felicidade.

No projeto realizado pelos arquitetos Mariana Meneghisso e Alexandre Pasquotto no Guarujá, parte da varanda do quarto do casal foi revertida em suíte, ampliando o espaço e proporcionando ampla vista. No ambiente, predominam o clima tranquilo e o azul do mar | Projeto Meneghisso & Pasquotto Arquitetura | Foto: Livia Kras

Estudos apontam que formas, iluminação, escala e ordem ambiental modulam atenção, reduzem níveis de estresse e promovem estados de calma e concentração. “Projetar com silêncio visual é também projetar para a mente. Mais do que espaços bonitos, tudo se conecta com o princípio de conciliar equilíbrio e qualidade para a vida cotidiana”, observa a arquiteta.

Do ponto de vista psicológico, habitar em um espaço sem ruídos e equilibrado reduz a sobrecarga sensorial que enfrentamos diariamente. “Trata-se da arquitetura do autocuidado”, define. Paletas neutras ajudam a desacelerar os pensamentos, enquanto texturas naturais despertam memórias afetivas e entregam conforto emocional.

Luxo sem gritos

Por fim, o quiet luxury é, antes de tudo, uma atitude: entender que comodidade, qualidade e significado valem mais que sinais de status visíveis. Ele se sustenta em pilares que vão do contexto histórico e social às descobertas da neuroarquitetura, passando pela sustentabilidade e por escolhas de design que privilegiam a experiência humana.

“Não é preciso ser estrondoso para ser percebido. O verdadeiro luxo é sentir-se bem, estar rodeado por elementos que fazem sentido e encontrar beleza naquilo que é simples, mas eterno”, finalizam o casal Alexandre Pasquotto e Mariana Meneghisso.

Sobre a Meneghisso & Pasquotto Arquitetura

Com referências importantes na viabilidade executiva do projeto, somado a formação afinada em forma e estética, a dupla de arquitetos se completa na criação e concepção dos trabalhos. O escritório atua em projetos residenciais, comerciais e corporativos. Tendo como premissa produzir soluções, através de projetos autorais funcionais, atemporais, nos diversos vieses estéticos e de estilo, que traduzam boa arquitetura e a personalidade do cliente.

Em 2025, o escritório fez sua estreia na CASACOR São Paulo, o maior evento de design, arquitetura e decoração das Américas, com o banheiro Natureza em Essência.

Mariana Meneghisso. Arquiteta Urbanista pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, Design de Interiores pela Escola Panamericana de Artes. Pós Graduada em Responsabilidade Civil pela Fecaf, Pós Graduada em Neuroarquitetura pela Ipog, Especialista em Perceptual Design pelo Instituto Politécnico de Milão. Membro da Academy of Neuroscience for Architecture Brasil. Sócia da Meneghisso & Pasquotto Arquitetura desde 2005.

Alexandre Pasquotto. Arquiteto Urbanista pela Universidade Bandeirantes de São Paulo, Técnico em Edificações pela E.T.E. Júlio de Mesquita, Pós Graduado em Cálculo Estrutural pela Ipog, atua na construção civil residencial, industrial e corporativa desde 1992, consultor em dimensionamento, viabilidade e custos no ramo civil. Sócio desde 2004 da Meneghisso & Pasquotto Arquitetura.

@meneghisso_pasquotto_arq

Telefone: (11) 4551-7809 | 11 99272-8924

E-mail: contato@pasquottoarquitetura.com.br

Site: https://www.pasquottoarquitetura.com.br/

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