Dicas para ter uma cozinha ergonômica e funcional

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Um bom projeto de cozinha respeita os fluxos da casa, o corpo e os hábitos de quem a utiliza. Por isso, o arquiteto Paulo Tripoloni revela as medidas ideais e decisões que fazem a diferença no dia a dia

Hoje, a ergonomia é parte fundamental de um bom design, garantindo alturas adequadas, boas distâncias entre os equipamentos e uma circulação fluida na cozinha | Projeto Atelier Paulo Tripoloni | Foto: Adriano Escanhuela

Não faz muito tempo: bastava caber o fogão, a geladeira e a pia e, pronto, estava feita a cozinha. Pouco se discutia sobre altura de bancada, distância apropriada entre os equipamentos ou iluminação certa para o preparo dos alimentos. Mas os tempos mudaram, a cozinha se tornou o coração da casa, virou lugar de encontros e afetos, e ganhou novos olhares, mais detalhistas e certeiros. Essa transformação trouxe uma nova forma de projetar a cozinha, mais focada na personalização e em soluções confortáveis.

Por isso, o arquiteto Paulo Tripoloni, à frente do Atelier que leva seu nome, reuniu dicas importantes que norteiam a criação de um ambiente, verdadeiramente, acolhedor, com alturas ideais, distâncias estratégicas, iluminação eficiente e muitos outros atributos que jamais podem ficar de fora.

Principal erro que compromete as cozinhas

Por trás de muitas cozinhas impecáveis, há um detalhe que só se revela com o tempo: a falta de funcionalidade. Circulação travada, armários mal posicionados, falta de espaço para apoiar ingredientes ou até mesmo a ausência de uma tomada onde mais se precisa, tudo isso, segundo Paulo Tripoloni, vem da ausência de planejamento, um erro invisível à primeira vista, mas que compromete a produtividade diária.

A circulação ao redor dessa península foi pensada com 1,20 m de distância, justamente para permitir que mais de uma pessoa se movimente ali com conforto, sem esbarrões nem interrupções | Projeto Atelier Paulo Tripoloni | Foto: Rafael Renzo

Mais do que beleza, uma boa cozinha exige lógica, onde se entende os fluxos, prevê ações, pensa no preparo, no armazenamento, na limpeza e no convívio, tudo ao mesmo tempo. Para Paulo, é no planejamento que o projeto se alinha com os fundamentos da ergonomia, que servem além de padronizar as medidas, para adaptar o espaço ao morador. “Uma cozinha para ser vivida precisa ser pensada para isso, não adianta seguir tendências se elas não se encaixam na rotina dos viventes. Uma bancada bonita, mas com altura errada, vai causar incômodo no dia a dia”, alerta o arquiteto.

Para Paulo Tripoloni, um projeto com soluções ergonômicas vai trazer para a rotina:

· Redução do esforço físico: uma pia na altura errada exige que o corpo compense, o que ao longo do tempo vai significar dores e desconforto. O mesmo vale para armários altos demais, fornos mal posicionados ou distâncias mal calculadas;

· Fluxo inteligente entre tarefas: com a disposição correta dos elementos e da setorização – preparo, cocção, armazenamento e higienização –, tudo fica em seu devido lugar, trazendo mais agilidade.

“Quando cada área da cozinha tem uma função bem definida, tudo muda: o ambiente fica mais intuitivo, leve e gostoso de usar”, afirma.

Medidas ergonômicas

A altura da bancada, da pia e do fogão deve respeitar a estatura de quem usa a cozinha. Em média, varia entre 90 e 100 cm, mas nada impede ajustes pontuais, já a profundidade padrão de 60 cm acomoda o cooktop e 70 cm para cubas profundas sem sacrificar espaço de circulação nem exigir grandes extensões.

“Mas ergonomia é personalização. Se a bancada não respeita o corpo de quem cozinha, o projeto, por mais bonito que seja, falha na essência. Por exemplo, já fizemos bancadas com 1 m de altura para pessoas bem altas e funcionou muito bem”, pontua Paulo.

Acima do fogão, a coifa ou o depurador precisa estar a 75 cm a 90cm de distância para evitar calor excessivo no rosto de quem cozinha e, ao mesmo tempo, captura de vapores usuais.

O triângulo de trabalho

Com tudo à mão e em distâncias calculadas, o preparo das refeições fica mais competente | Foto: Divulgação/internet

Quem jamais ouviu falar da regra do triângulo talvez não saiba que ele representa a lógica entre pia, fogão e geladeira, para que o morador não precise se deslocar desnecessariamente – o ideal fica entre 1,20 e 2,70 m. Esse valor, entretanto, não é definitivo. “Gosto de lembrar que regra boa é a que escuta o morador. Cada cozinha tem seu ritmo e o triângulo precisa acompanhar esse compasso”, ressalta o arquiteto.

Famílias que cozinham juntas ou que usam eletrodomésticos complementares, como air fry, forno de embutir, adega, merecem adaptações no esquema clássico, sempre priorizando fluxos naturais e evitando cruzamentos perigosos de panelas e crianças. Vale ressaltar que as aberturas das portas de armários e eletros podem incidir diretamente no conforto e circulação.

Dica de iluminação

Neste projeto, Paulo Tripoloni planejou armários até o teto, aproveitando cada centímetro vertical do ambiente e evitando a sensação de bagunça ou acúmulo de itens fora do lugar | Projeto Atelier Paulo Tripoloni | Foto: Adriano Escanhuela

Para o projeto luminotécnico, Paulo Tripoloni compartilha que sempre dá preferência a uma iluminação em três camadas: luz geral entre 300 e 500 lux; para luz funcional, fitas de LED neutras (2 700 a 3 000 K) sob os armários para as bancadas; e uma iluminação decorativa que valoriza texturas e dá clima às reuniões noturnas.

“Dessa forma, podemos transformar a atmosfera da cozinha ao longo do dia. Prefiro LEDs lineares nas bancadas porque eliminam sombras e deixam as mãos livres para cortar e medir ingredientes, mas sem exageros já que o LED tende a causar um cansaço visual”, ensina.

Integração dos espaços

Com a tendência da integração das áreas sociais, salas abertas para a cozinha passaram demandar um desenho que delineie, sutilmente, a área de preparo e a de convivência, com uso de bancadas em meia‑altura, pendentes decorativos e variações de revestimento para criar barreiras visuais sem erguer paredes. “Uso a ilha como ponte entre o operacional e o social. Assim, quem cozinha continua no centro da conversa, sem levar fumaça para a sala”, comenta o profissional.

Esse equilíbrio também exige conhecer o perfil dos moradores, já que casais que adoram cozinhar juntos podem preferir uma bancada mais larga, assim como quem faz jantares para amigos valoriza espaço de apoio para pratos e taças.

Sobre a circulação de ilhas e penínsulas

Mudaram os hábitos, surgiram novas tecnologias e as ilhas e penínsulas viraram as protagonistas das cozinhas e áreas gourmet. Para elas brilharem, no entanto, é preciso reservar no mínimo 90 cm ao redor e o conforto pleno chega com 1,20 m livres. Quando concentram cooktop, cuba ou tomadas de apoio, planejar gavetões, portas e até a abertura da lava-louças é fundamental.

“Além da distância, penso na função: se a ilha ou a península serve de preparo, ela precisa de hidráulica, elétrica e iluminação eficientes”, explica Paulo.

A integração é evidente neste projeto: as banquetas próximas à ilha convidam a família para conversar, além da integração com o quintal da casa, tornando a rotina mais leve e compartilhada | Projeto Atelier Paulo Tripoloni | Foto: Adriano Escanhuela

Ventilação aliada à exaustão

Ao fundo, compondo o backsplash, cerâmicas estampadas variando no modelo arco simples e arco triplo | Projeto Atelier Paulo Tripoloni | Foto: Rafael Renzo

A janela é um dos principais elementos arquitetônicos de um projeto, o mais correto para cozinhas são janelas que ocupem pelo menos 1/8 da área do ambiente, assegurando a renovação do ar, principalmente se posicionadas para criar ventilação cruzada. Em apartamentos integrados, porém, a exaustão mecânica pode se tornar a principal, mas primeiro é preciso entender os ventos incidentes para garantir uma ventilação cruzada.

Outro item necessário são coifas e exaustores potentes, dimensionadas em m³/h conforme o volume do espaço, que impedem que odores e gordura cheguem à sala de estar, aliado discreto de quem gosta de receber amigos e família, mas não quer cheiro de fritura nas almofadas. “Ventilação natural é ótima, mas sem uma boa coifa o cheirinho de alho vira hóspede permanente”, brinca o profissional.

Seja em cozinhas compactas, seja em ambientes com ilha digna de chefs, a ergonomia continua sendo o ingrediente secreto para que o espaço funcione. Medidas bem calculadas, iluminação em camadas e ventilação eficiente garantem que a tarefa de cozinhar aconteça sem dores, tropeços ou fumaça. E, como lembra o arquiteto Paulo, “projeto bom é aquele que acompanha o dia a dia dos moradores, evoluindo com eles e tornando cada refeição um momento prazeroso”.

Sobre o Atelier de Arquitetura Paulo Tripoloni

Para o arquiteto Paulo Tripoloni, nascer na maior cidade da América Latina o fez refletir, desde cedo, sobre o lugar do homem nas cidades – o morar, o viver e o trabalhar. Morar em São Paulo despertou nele o olhar atento aos detalhes, necessidades e a força que a urbanidade trazia. Encontrou na arquitetura minimalista uma de suas inspirações para realizar projetos que buscam atender às necessidades da vida contemporânea por meio de ambientes funcionais, belos e ecologicamente responsáveis que conectem cada cliente ao que, de fato, é essencial para cada um.

Instagram: @paulotripoloni

Site: www.paulotripoloni.com.br

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